Ser 'freelancer' é ter mais tempo para si próprio,
mas também implica boa gestão do tempo e do dinheiro. Conheça os
conselhos do Saldo Positivo.
Foi
há dois anos que Sónia Gomes Costa, jornalista de profissão, decidiu
dizer “basta” à rotina de acordar às oito da manhã, vestir-se à pressa e
sair a correr para o trabalho, para oito horas mais tarde estar a fazer
o caminho inverso, já com energia bastante reduzida. Esta decisão
prendeu-se a necessidade de “procurar uma maior disponibilidade mental,
emocional e temporal para viver ao meu ritmo, escrever o que gosto de
escrever… desfrutar mais do trabalho sem ter aquele peso que é só o
ganha-pão, mas também a minha paixão”, contou a jornalista ao Saldo
Positivo. “Isto permite-me viver a vida com maior disponibilidade e
também descobrir novas paixões, o que de outra forma, a trabalhar em
redações ou com horário fixo, nunca tinha sido possível”, prossegue.
Trabalhar por conta própria é uma decisão ousada e arrojada. As
vantagens de ser ‘freelancer’ são muitas: a pessoa gere o tempo à sua
vontade, escolhe o trabalho que quer ou não fazer e tem tempo para
desenvolver projetos paralelos que goste. Por outro lado, se não souber
gerir muito bem a situação, podem surgir alguns contratempos,
principalmente no que diz respeito às finanças. Por isso mesmo, não
deverá fechar os olhos e esperar que a situação se resolva sozinha. Ao
ser ‘freelancer’ necessita cuidar de todos os aspetos do seu negócio
para garantir que é sustentável.
Até agora, Sónia Gomes Costa não se arrependeu da decisão que tomou:
“Há altos e baixos, mas depende mais da forma como giro esta decisão e
enfrento os desafios. Talvez o maior seja a gestão do tempo e também dos
recursos financeiros, mas como sou muito disciplinada e gosto de
trabalhar sozinha, até porque sinto que sou mais criativa e produtiva,
adoro estar livre, apesar da aparente instabilidade ou falta de
segurança material”, explica.
Prepare-se para os contratempos
As maiores dificuldades com que esta trabalhadora independente se
deparou estão relacionadas com o mercado. “Conseguir colaborações
regulares, publicar os meus trabalhos e ser paga pelo serviço prestado
de forma justa… ou até ser paga, porque já aconteceu não me pagarem
depois de ter escrito textos”, refere. Apesar das contrariedades do
mercado Sónia Gomes Costa deixa um conselho: “Há que acreditar, ser
disciplinada, resiliente, disponível para as oportunidades, procurar
essas oportunidades, saber dar a volta à escassez e ao medo”.
Existem muitos erros cometidos, principalmente quando ainda se é
inexperiente, e um dos principais é não ter um fundo maneio para
situações de emergência. Devido à instabilidade da condição de
‘freelancer’, até conseguir clientes certos e estabelecer rendimentos
com alguma regularidade, é muito difícil saber quanto dinheiro vai
ganhar nos próximos meses. Não planear o ano é outro “pecado” cometido:
ao tornar-se ‘freelancer’ vai deixar de ter um ordenado fixo, por isso,
deve organizar-se para que tenha sempre dinheiro reservado para pagar as
despesas mensais, mesmo nos meses em que o trabalho não abunda. A má
gestão do tempo também pode afetar o sucesso da carreira como
trabalhador independente, por isso, é tão importante saber gerir o
tempo, como gerir as finanças, de forma a não descurar nenhuma das
tarefas agendadas.
Tenha ainda em consideração que irá perder alguns dos benefícios que
tinha enquanto trabalhador com contrato numa empresa, como por exemplo, o
subsídio de férias ou o subsídio de Natal. Além disso, terá de fazer os
seus próprios descontos para a segurança social, assim como terá de
pagar os respetivos impostos sobre os rendimentos auferidos. Conheça
então alguns conselhos para ajudá-lo a ter sucesso como ‘freelancer’.
Sete conselhos para as suas finanças não resvalarem:
1. Faça um orçamento mensalTodas as pessoas
devem ter um orçamento familiar. É necessário saber exatamente quais são
as suas fontes de rendimento (que no caso dos ‘freelancers’ costumam
ser diversificadas), e quais são as despesas fixas e variáveis mensais,
para conseguir encontrar uma margem para poupar e saber quanto dinheiro
tem disponível para gastar no que lhe apetecer.
No caso dos trabalhadores independentes fazer um orçamento pode ser
difícil pois muitas vezes é difícil prever com exatidão quanto é que vai
ganhar em cada mês. Por isso mesmo é aconselhável que faça uma
estimativa (sempre por baixo) de qual será o seu rendimento mensal e
sempre que conseguir ganhar mais dinheiro, ponha-o de lado para os meses
em que o trabalho escasseia.
2. Controle o seu dinheiroNão basta fazer um
orçamento familiar: É também imprescindível que mantenha o controlo
sobre todos os gastos pessoais, para evitar que o orçamento descarrile.
Por exemplo, para controlar os seus gastos, Sónia Gomes Costa faz mapas
mensais do orçamento para gerir as despesas que tem e os honorários a
receber nesse mês. “Há meses mais equilibrados e tudo bate certo (e
respiro tranquila) e até pode sobrar dinheiro que depois invisto em
coisas fora das despesas fixas para fazer atividades que me dão prazer
(cinema, teatro, concertos, jantar fora, etc…)”. Além disso, esta
trabalhadora ‘freelancer’ tem desde julho de 2013 um mealheiro, no qual
vai depositando moedas, conforme a sua disponibilidade.
3. Lembre-se dos impostosQuando trabalha por
conta própria é muito importante que tenha as suas contas em ordem e
conheça as suas obrigações para não ter problemas com o Fisco ou com a
Segurança Social.
De uma forma muito resumida estas são as obrigações de um trabalhador
a “recibos verdes”: Todos os meses tem de pagar a Segurança Social e
tem de fazer retenção na fonte (25%) para efeitos de IRS. Se no ano
anterior tiver recebido até 10 mil euros não é obrigado a fazer retenção
na fonte todos os meses e apenas tem de “acertar contas” com as
Finanças quando entregar a sua declaração de IRS. Se tiver recebido um
valor acima dos 10 mil euros, passa a ser obrigado a fazer retenção na
fonte todos os meses.
Há ainda a responsabilidade de pagar o IVA, cujo
pagamento é feito trimestralmente. Se no ano civil anterior não tiver
obtido rendimentos brutos superiores a 10 mil euros, o trabalhador está
isento de fazer a cobrança de IVA. De ressalvar que a Segurança Social e
IRS são suportados pelo próprio, enquanto o IVA é suportado pelo
cliente.
Portanto, ter a “papelada” organizada é sinónimo de finanças pessoais
saudáveis. Um conselho: faça um mapa anual com todas as obrigações às
Finanças e Segurança Social, para que não lhe escape nenhum pagamento.
4. Tenha um fundo de emergênciaTal como acontece
no orçamento familiar mensal, todas as pessoas também deveriam ter um
fundo de emergência que contenha um valor equivalente a, pelo menos,
seis meses de despesas fixas mensais para alguma eventualidade. No caso
dos trabalhadores ‘freelancer’, este fundo de emergência é ainda mais
urgente e deverá ser mais abastado, pois funciona como uma rede de
segurança.
5. Cobre um preço justoComo ‘freelancer’
necessita saber quanto é que o seu trabalho vale. Determinar quanto é
que uma hora do seu dia de trabalho vale pode ser intimidativo, por
isso, o melhor é fazer as contas: conheça todas as suas despesas fixas e
variáveis, conte com o subsídio de férias, de natal e de almoço que não
recebe ao trabalhar por conta própria, defina quantas horas é que vai
trabalhar por semana e chegue a um valor.
É importante que não cobre menos do que precisa para viver, se não
pode dar-se o caso de deixar de conseguir fazer face às despesas mensais
ou então acaba por apenas conseguir pagar as contas fixas, ficando sem
margem para nada, como um jantar fora ou comprar uma peça de roupa que
necessite
6. Seja “camaleão”Se decidir trabalhar por conta
própria terá de habituar-se a viver na “corda bamba”. Quando os
rendimentos mensais são menores do que estava à espera (porque um
cliente ainda não pagou, por exemplo) deverá conseguir viver com menos
dinheiro. Nestas situações, evite recorrer demasiado ao cartão de
crédito, caso contrário poderá entrar em situação de
sobre-endividamento, da qual é difícil sair.
Outro aspeto a ter atenção é que deve ajustar a sua remuneração aos
tempos. Se mantiver o mesmo preço, enquanto o custo de vida aumenta,
pode dar por si apenas a “sobreviver”. Mas também não deverá aumentar de
tal forma o preço, que afugente os seus clientes.
7. Poupe para a reformaEste ponto é muito
importante. Todas as pessoas têm de poupar para a reforma para não
perderem qualidade de vida de vida durante a velhice, mas os
trabalhadores independentes devem fazer um esforço extra para colocar
todos os meses algum dinheiro de lado. Pode ser mais difícil, porque não
existe a certeza de quanto dinheiro irá ganhar todos os meses e se vai
dar para canalizar para a poupança, e exige alguma ginástica, mas deverá
habituar-se a fazê-lo.
Quanto mais depressa começar, menor será o esforço mensal.
Cinco sites para encontrar emprego para ‘freelancers’
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Zaask – É uma
espécie de rede social onde os trabalhadores ‘freelancers’ podem
oferecer o seu trabalho. E quem procura determinado serviço também podem
afixar o pedido.
-
Elance –
É um dos melhores sites para ‘freelancers’ de várias áreas, como
escritores, jornalistas, advogados, consultores financeiros, entre
outros.
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Guru – Aqui pode encontrar trabalhos para ‘freelancers’ em áreas diversas como tradução, design, arquitetura ou vendas.
-
People per Hour – Aqui pode criar um perfil que chame à atenção de potenciais contratadores e enviar propostas para possíveis clientes.
-
Pitch me – É um site especifico para jornalistas, que se divide por moda, ciência, cultura, política, tecnologia, entre outros.
Fonte:
saldopositivo.cgd.pt